Intimidade familiar: uma ferramenta básica de prevenção ao suicídio
Se você agora entende a importância disso, mas reconhece que falta intimidade em sua família, comece hoje mesmo a mudar essa situação.
O suicídio é um dos temas mais delicados para se tratar em qualquer
circunstância, especialmente no ambiente familiar. Entretanto, o assunto não
pode passar despercebido aos olhos da família, especialmente dos pais, dado o
contexto em que vivemos, onde conteúdos muito preocupantes se proliferam mundo
a fora, sendo facilmente alcançados pelos mais jovens através das mídias
digitais.
Por causa disso, devemos sempre buscar meios de nos precaver ao máximo
das influências negativas que cercam os nossos filhos, e é pensando nisso que
quero tratar no artigo desta semana sobre a importância da intimidade familiar,
algo crucial na relação entre pais e filhos.
Quando falamos de suicídio, temos como referência estatística alguns dos
países onde esse problema é avassalador, como os Estados Unidos, onde esta é a
segunda maior causa de morte entre os jovens de 10 a 19 anos. Apesar dos jovens
masculinos serem os mais afetados, dados recentes do Centro de Controle e
Prevenção de Doenças americano têm revelado um aumento preocupante entre as
garotas de 10 a 14 anos, segundo uma pesquisa do Nationwide Children’s
Hospital.
Com o surgimento da pandemia do novo coronavírus, no começo de 2020
(acredita-se), o número de suicídios entre os jovens também aumentou, assim
como o de abuso de drogas e outras problemáticas de ordem emocional, como a
depressão e o transtorno de ansiedade. A morte por overdose, por exemplo, bateu
um recorde de 93 mil casos nos EUA no ano passado, e tudo isso faz parte de uma
conjuntura que deve ser analisada e encarada, também, no seio familiar.
A intimidade como fator protetivo
Chegamos aqui ao ponto-chave da nossa reflexão, a intimidade! Mas de
qual tipo de intimidade estamos nos referindo? Evidentemente não é a sexual, e
sim à relacional, que nada mais é do que o modo como os integrantes da família
se relacionam entre si.
Na clínica psicológica, um dos relatos mais comuns entre os pacientes
que apresentam ideação suicida (pensamentos recorrentes sobre tirar a própria
vida; vontade de "morrer"; "subir"; "não estar mais
aqui"; elaboração e busca por planos; etc.) é o de solidão, falta de
empatia e compreensão.
Muitas vezes esses relatos partem de pessoas que convivem em uma família
numerosa, onde há pai e mãe, irmãos, etc. Então, o que explica esse sentimento
de solidão? A resposta está justamente na ausência de intimidade. Isso porque,
a simples presença de pessoas debaixo do mesmo teto não é sinônimo de presença
afetiva.
A intimidade é o que torna a presença significativa do ponto de vista
relacional/afetivo. É quando uma pessoa sabe que pode contar com a outra quando
precisa desabafar, sorrir, chorar, compartilhar experiências das mais diversas,
e com isso externar os sentimentos e ideais positivos ou negativos. A sensação
de empatia e compreensão também é fruto desse contexto.
É a partir dessa relação de confiança entre os membros da família que a
intimidade se torna um fator de proteção contra o suicídio, e isso vale para
todos, desde os mais jovens aos mais velhos. Infelizmente, no mundo atual, com
tantas distrações virtuais, muitos convivem na mesma casa, mas cada indivíduo
em seu próprio mundo, e o que parece bom, na verdade, é péssimo, pois produz um
tipo de distanciamento quase imperceptível que aos poucos minando a relação
familiar.
Por fim, destaco que a intimidade não é conquistada de uma hora para
outra, mas sim construída! Os pais precisam entender que a proximidade com os
filhos ocorre através do relacionamento contínuo com eles, onde há um interesse
genuíno na busca pelas coisas do dia-a-dia. É preciso dedicação, sabedoria e
algumas vezes criatividade.
Se você agora entende a importância disso, mas reconhece que falta
intimidade em sua família, comece hoje mesmo a mudar essa situação. Não deixe
para depois! Em outra oportunidade discutiremos formas de criar engajamento
familiar, mas até lá você mesmo poderá exercitar isso, por exemplo, reunindo a
família numa mesa de jantar ainda hoje, que tal? Pense nisso.
Por Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos
Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que
as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e
"Famílias em Perigo".
FONTE: GUIAME, MARISA LOBO
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