Cristo é a Parábola!
Cristo que sendo Deus se entregou ativamente por nós.
O que é uma parábola?
Resposta imediata: é uma história com sentido moral ou espiritual que Jesus
contava. Tttrrrúúú!!! Errado! Melhor: incompleto. Uma parábola é a curva
plana definida como o conjunto dos pontos que são equidistantes de um ponto dado
(chamado de foco) e de uma reta dada. Aprendi isto em Matemática, quando
estudei as equações de segundo grau. Bom, já acordei fantasmas em alguns
leitores! O que é interessante numa parábola em matemática é que partindo do
ponto P, a distância até ao ponto F, é igual até à reta (vide figura). E, se
mudarmos o ponto P ao longo da parábola (o cone) teremos sempre o mesmo
resultado.
Parábola divina
No belo hino que temos em Filipenses 2.5-11, sobre o caráter de Cristo, Paulo traça a vida de Cristo desde a eternidade passada em que Ele existia em forma de Deus, através dos eventos da Sua vida na terra, até à eternidade futura em que Cristo será novamente glorificado com o Pai. Todo este trajeto de Cristo tem sido descrito como uma parábola. Porque começa no passado infinito, descendo até ao ponto mais humilhante de Cristo na Cruz, e depois começa uma subida vertiginosa ascendendo até ao futuro infinito. Nos dois precursos – descida/subida; humilhação/ascenção – há uma simetria perfeita. Lindo!
Duas palavras essenciais
Falando sobre a posição que Cristo desfrutava com o Pai na
eternidade passada o apóstolo Paulo usa duas palavras essenciais:
Morphé
A primeira é a palavra grega morphé, encontrada na frase “em forma de Deus”. Geralmente a palavra “forma” tem a ver com os contornos exteriores dum objeto. Paulo usa esse sentido quando diz que há pessoas que “têm uma forma de religião, mas negam o seu poder” (2 Tim 3.5). Outro uso de “forma” revela uma ideia dominante no Novo Testamento. Por vezes dizemos: “hoje, estou em boa forma”. (fazemos até uma brincadeira com os dois sentidos de “forma”. Um amigo pergunta: “tudo em forma?” E respondemos: “sim, em forma redonda” – enquanto afagamos a barriga) E, aqui neste “em boa forma”, não nos referimos à forma exterior, mas a um estado de espírito interior. Sentimo-nos cheios de energia. Positivos. Com ganas de viver! É esse o sentido de Paulo no Hino de Filipenses quando ele fala do estado pré-encarnado de Cristo. Ele está efetivamente a dizer que Cristo possuía interiormente e exibia exteriormente a natureza e o carácter do próprio Deus.
A segunda palavra é ainda
mais enfática. É a palavra “isos” que significa igual. Usamos o prefixo “iso”,
por exemplo, para falarmos de triângulos isósceles. Um triângulo com dois lados
iguais. Isométrico refere-se a medidas iguais; e isomorfo será… Isso mesmo:
formas iguais. Paulo usa a palavra, em Filipenses, no sentido de que Cristo é
igual a Deus. Cristo é Deus. Todavia, a maravilha é que Cristo não se agarrou
ao facto de “ser igual (isos) a Deus” (Fil 2.6), antes Ele colocou de lado a Sua Glória para se
tornar homem, e sendo “achado em forma (a palavra aqui é schema que remete para
as circunstâncias do ser humano, diferente de morphé = carácter de Deus) de
homem” (Fil 2.8), morreu por nós, recebendo de volta a Sua
Glória, e sendo adorado como Senhor por toda a criatura inteligente. “O nome
que está acima de todo o nome… é O Senhor” (Fil 2.9,11). A palavra no grego é Kurios que
significa supremo em autoridade, o controlador máximo. Então, o fluir deste
Hino corre para a homenagem que todo o universo rende a Cristo: Jesus é Senhor,
Rei Supremo, Presença Imperial. Na verdade, a linguagem Paulina entronca
diretamente em Isaías 45.23, onde Deus declara ser Ele mesmo o alvo da
adoração cósmica: “a Mim todo o joelho se dobrará, e toda a língua confessará
que Eu Sou Jehová”.
Como reagir à Divindade de Cristo?
Como reagir a este carácter de Cristo que sendo Deus se entregou
ativamente por nós, e foi obediente até à morte na Cruz? Naturalmente, a reação
envolve todo o nosso tecido existencial. Mente, coração e vontade. Os elementos
da Sua Glória são tão abrangentes que nada para além da nossa total devoção a
Ele, será suficiente. A Glória da sua Divindade requer de nós uma harmonia
completa em obediência. Ele é Soberano. A Glória da Sua humilhação nos
constrange a amar como fomos amados, a sermos graciosos como a Sua Graça que
nos alcançou. A Glória da Sua exaltação, nos leva a erguer cânticos de vitória
ao “Pai que levantou o Seu Filho dos mortos”. E a Glória do Seu Reino
Sacerdotal, intercedendo à direita de Deus Pai por nós, motiva-nos a reconhecer
Cristo como Rei Misericordioso que dispensa “ajuda em tempo de necessidade”.
Em 2 Cor 3.18 lemos que “todos nós, com rosto descoberto,
refletindo como um espelho a Glória do Senhor, somos transformados de glória em
glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”. Lindo! Contemplar a
Glória de Cristo faz-nos mais semelhantes a Ele. Devagar (por vezes
penosamente) Deus nos transforma à imagem do Seu Filho. Passo a passo. Piano,
piano! Os italianos usam esta expressão para algo que acontece ou progride
pouco a pouco. Piano, piano Deus vai quebrando coisas nocivas em nós, nutrindo
graça. E isto, enquanto “contemplamos a Sua Glória”. Há algo de inexplicável
aqui. Mas, esta é a marca do Cristão: refletir o carácter divino de Cristo.
Filipe Samuel Nunes - Formou-se em Teologia na Inglaterra, exerceu trabalho pastoral durante 25 anos em Portugal e vive há 12 anos no Brasil onde ensina Inglês como segunda língua.
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