Consertar, trocar ou aguardar?
A mente humana, especialmente a masculina, foi programada para
solucionar problemas. Isso não significa que conseguimos solucioná-los, apenas
que essa é a inclinação do homem. Toda vez que alguém nos fala de um problema,
nosso cérebro começa a analisar o problema, busca soluções e as apresenta. Não
importa o quão ingênuas, ou o quanto desconhecemos o problema... Ao ouvi-lo,
tentamos solucioná-lo.
Isso gera muitos problemas em nossa comunicação. É comum que
tentemos solucionar um problema antes mesmo de entendê-lo. Por outro lado, se
não conseguimos solucionar um problema, tendemos a não mais querer ouvir sobre
isso. Temos baixa tolerância para problemas não resolvidos. Nesse momento,
nossa tendência se volta para trocar aquilo que apresentou problemas. Ou seja,
se não posso resolver, quero evitar ou trocar o que está quebrado.
O mundo moderno parece ter adotado e elevado essa característica
a uma regra geral. Assim, quando enfrentamos um problema que não conseguimos
resolver, a solução é trocar o aparelho, a situação ou o relacionamento! Somos
especialistas em trocas de problemas aparentemente insolúveis. A própria
indústria trabalha com o conceito de obsolescência programada, ou seja, dentro
de um determinado período, o produto terá de ser substituído.
Aguardar
desafia nossa mente moderna que deseja resultados imediatos, trocando a pessoa,
o aparelho ou a situação.
A vida cristã, no entanto, parece propor uma terceira
alternativa: aguardar! Aguardar não é sinônimo de apatia ou de paralisia.
Aguardar desafia nossa mente moderna que deseja resultados imediatos, trocando
a pessoa, o aparelho ou a situação. Aguardar desafia nosso espírito humano que
está sempre em atividade para conquistar aquilo pelo que ansiamos.
Os exemplos de como seres humanos tentaram consertar ou trocar
algo ao invés de aguardar são abundantes. Abrão e Sarai tentaram resolver o
problema de infertilidade trocando a mãe e criaram uma grande confusão (Gênesis
16). Moisés tentou consertar a opressão de seu povo matando o egípcio, o que
resultou em quarenta anos no deserto (Êxodo 2). Saul tentou resolver o atraso
de Samuel trocando aquele que deveria fazer o sacrifício e o resultado foi a
perda do trono (1Samuel 13). E esses são apenas exemplos superficiais.
Ao mesmo tempo, temos excelentes exemplos de pessoas que aguardaram a
promessa em Deus e o resultado foi benção! José, apesar de injustiçado,
aguardou a promessa e com isso foi reconhecido e elevado a uma situação em que
pôde salvar sua família da fome (Gênesis 41–47). Davi aguardou o momento de
assumir o trono e com isso recebeu a promessa de que sua linhagem incluiria o
Messias (2Samuel 7).
Se Deus deseja que eu intervenha ou
“conserte”, certamente será de acordo com sua Palavra.
Aguardar é uma declaração de fé no Senhor. No entanto, a pergunta que
permanece é: quando você deve consertar, quando trocar ou quando simplesmente
aguardar? Certamente, a resposta demanda muito discernimento e cada situação
pode ter uma resposta do Senhor. No entanto, creio que podemos alistar alguns
princípios norteadores quando enfrentamos algum problema:
1. Há muitas situações
em que Deus deixa claro sua vontade e até mesmo confirma que ele vai usar você
para solucionar um problema. No entanto, isso não significa que isso acontecerá
nesse momento em que você acha certo. Abraão esperou pela promessa do seu filho
por 25 anos, Moisés esteve no deserto por quarenta anos, Davi, mesmo
reconhecido por Samuel como sendo o próximo rei, aguardou 22 anos pelo
cumprimento da promessa. Mesmo quando a promessa foi feita, é fundamental
aguardar o tempo do Senhor!
2. Deus nos fortalece
enquanto aguardamos (Isaías 40.31). Aguardar não é sinal de fraqueza, mas de
dependência de Deus. Com muita frequência, o tempo de espera é tempo de
formação e preparo. Tanto Moisés como Davi foram profundamente transformados
durante seus longos períodos de espera.
3. Se Deus deseja que
eu intervenha ou “conserte”, certamente será de acordo com sua Palavra (2Timóteo
3.16). Isso pode parecer simples demais, mas eu me lembro de um jovem cristão
que entrou em minha sala para me explicar como Deus havia mostrado que ele
deveria deixar sua esposa para se casar com outra mulher. Não só essa não era
uma solução, como também foi fator de profunda dor para todos os envolvidos.
4. Se Deus deseja que
você “troque” algo ou alguém, ele vai remover o antigo para trazer o novo. Não
assuma o papel daquele que vai remover alguém para tomar seu lugar, ou de
alguém que vai romper antigos compromissos por outros mais atraentes. Quando
isso acontece, o mais provável é que ouvimos mais nosso ego do que a voz do
Senhor! O melhor exemplo é o de Davi, que já tinha a promessa de que ele seria
rei de Israel e de que o ocupante do trono (Saul) estava longe de ser adequado.
Ainda assim, sua atitude foi de esperar para que Deus realizasse a troca
(1Samuel 26.10).
Diante dos muitos problemas da vida, minha oração por mim e por você é
que em primeiro lugar busquemos ao Senhor. Nossa pergunta então deve ser: devo
intervir, devo trocar ou devo aguardar? Acredito que eu mesmo teria evitado
muita dor em minha vida e na vida de outros se eu tivesse usado mais esse
simples procedimento.
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos, uma neta e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
Fonte: www.chamada.com.br
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