Respostas àqueles que dizem que não é importante nem essencial o culto público
A interpretação isolada que alguns
têm feito sobre Mateus 18:20
Respostas
àqueles que dizem que não é importante nem essencial o culto público Foto: Pixabay
Há pouco, acabei de ver os resultados de duas enquetes sobre a
essencialidade dos cultos públicos. As enquetes foram feitas no meu Instagram e
no programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan. Interessante foi perceber que, em
ambas, a esmagadora maioria dos que votaram disse que deseja os cultos
presenciais. Na verdade, parece que os cristãos querem cultuar ao Senhor com
cuidado e precaução, diferente daqueles que, guiados por militância,
transformaram o que creem em percepção política.
Agora, vale a pena ressaltar que entendo que restrições são
importantes e que não sou a favor de aglomerações. Contudo, não vejo problemas
de a Igreja se reunir com público reduzido até porque, seguindo os protocolos,
o risco de contaminação por parte dos fiéis é mínimo.
“Ah,
mas se a questão é orar e cantar, por que vocês não podem fazê-lo em casa?”,
perguntam alguns.
Ora,
a resposta a isso é simples. O culto não é um lugar onde somente se ora e se
canta. Quem faz tais afirmações desconhece, de forma clara, o que significa a
Igreja de Cristo. Ademais, do ponto de vista das Escrituras, o culto é público
e presencial. Basta olhar para a Palavra de Deus e perceber isso, o que nos
leva ao entendimento de que não existe a possibilidade de culto on-line, muito
menos ceia ou batismo on-line, mesmo porque a ceia do Senhor sempre foi
ministrada no ajuntamento dos crentes em Jesus, bem como o batismo, que é uma
confirmação pública celebrada pelo povo de Deus.
Junta-se a isso que os regenerados pelo Espírito Santo, unidos a
Cristo, querem e desejam conectar-se em relacionamentos saudáveis e profícuos
na communio sanctorum.
Além
disso, na reunião pública dos eleitos de Deus consolamos e somos consolados,
amamos e somos amados, cuidamos e somos cuidados. Isto sem falar, é claro, na
ministração da Palavra de Deus que, quando pregada, injeta nos corações dos
aflitos esperança.
DOIS OU
TRÊS REUNIDOS
“Ah! Não concordo! Jesus por acaso não disse que onde estiverem dois ou três
reunidos em seu nome ele ali estaria?”
Pois
é! Boa parte dos evangélicos tem por hábito desenvolver doutrinas fundamentadas
em versículos isolados. Ora, um princípio exegético e hermenêutico é que “texto
fora do contexto é como mero pretexto”, e o pretexto é a base para o surgimento
de heresias. E digo mais: estabelecer uma afirmação doutrinária ou elaborar um
corpo de doutrinas fundamentados em textos isolados, fora do seu contexto, é um
erro grave e que, por si só, traz consequências funestas à Igreja de Cristo.
Para piorar a situação, os que agem desta forma, além de
“assassinar” o texto bíblico, levam àqueles que os leem e ouvem a uma visão
absolutamente equivocada do ensino das Escrituras.
Um
exemplo claro disso é a interpretação que alguns tem feito sobre Mateus 18:20,
que diz: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou
no meio deles.”
Segundo
esses irmãos, o texto afirma que qualquer grupo de duas ou três pessoas reunido
em nome de Jesus pode ser caracterizado como Igreja, o que se justificaria em
tempos de pandemia.
Mas
será que a interpretação feita por esses irmãos está certa? Será que o texto
usado pelos que advogam essa premissa pode, à luz do contexto, ser interpretado
desta maneira?
Penso
que não, até porque, textos isolados, extraídos do contexto, podem produzir
heresias.
Bruce Shelley (1), contrapondo-se a essa ideia, afirma que
alguns em nosso tempo têm tido uma visão da Igreja distorcida pelo
individualismo e que o individualismo tem contribuído para a construção do mito
de que onde estiverem dois ou três reunidos em nome do Senhor, ali é a Igreja.
Pois
é! Para estes, o texto em Mateus 18:20 é a prova inequívoca de que, para
constituir uma igreja, basta somente duas ou três pessoas se reunirem em nome
de Cristo. Só que, como falei anteriormente, todo texto precisa ser lido dentro
do contexto, até porque o entendimento do contexto é essencial para a
compreensão do significado do texto.
Bruce
L. Sheeley afirma que, no contexto, o Senhor Jesus ensina que, se o nosso irmão
pecar contra nós, devemos procurá-lo em particular e tentar a reconciliação (v.15).
Se ele não quiser atender-nos, pediremos a um ou dois indivíduos que nos
acompanhem, para que toda palavra se estabeleça pelo depoimento de duas ou três
testemunhas (v.16). Se mesmo assim ele se recusar a ouvir-nos, Cristo então
ordena: “Dize-o à Igreja e, se recusar a ouvir também a Igreja, considere-o
gentio e publicano” (v 17).
Por pavor, preste atenção! Os dois ou três mencionados no texto
[do v. 20] não são considerados Igreja, a qual é identificada como um corpo
espiritual maior, reunido localmente, de modo que lhe possam contar o
acontecido, e o indivíduo desviado possa dar-lhe atenção.
Augustus
Nicodemus é contundente ao afirmar que o texto [em Mt 18.20] não concede base
para que dois ou três, em nome do Senhor, separem-se da Igreja e resolvam,
assim, fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como
cristãos. (2)
Essa
passagem particular [Mt 18.20] faz uma clara distinção entre o pequeno grupo de
cristãos e a Igreja (local).
Vale
a pena ressaltar que, segundo o contexto, o verso 20 [de Mt 18] sugere que
Jesus está no meio de duas ou três testemunhas reunidas não para congregar, mas
para decidir a veracidade ou falsidade de declarações feitas nas tentativas de
reconciliar as diferenças entre os crentes.
Isto posto, usar esse versículo para justificar a ausência de
cultos, afirmando que duas ou três pessoas reunidas em nome de Cristo constitui
uma Igreja, é um grave erro exegético.
O
versículo comumente usado pelos “militantes” para justificar a ausência de
reuniões públicas na pandemia não pode fundamentar a premissa por eles
defendida. Ademais, uma igreja local se caracteriza por outros fatores.
Jonathan
Leeman (3), por exemplo, afirma que o que constitui uma igreja local é um grupo
de cristãos que se reúne regularmente em nome de Cristo para confirmar e
supervisionar legitimamente a participação uns dos outros em Jesus Cristo e em
seu reino, mediante a pregação do evangelho e a prática dos sacramentos.
Leeman
afirma que isso se dá mediante a pregação, a ministração do batismo e da ceia
do Senhor, bem como a aplicação da disciplina.
A questão é que os “niilistas eclesiásticos” odeiam todo e
qualquer tipo de organização, rejeitando assim tudo o que possa lembrar um tipo
de instituição. Para piorar a situação, preferem dar ouvidos aos conselhos
distorcidos de “militantes”.
O
reformador francês João Calvino, ao contrário de muitos pastores, ensinava a
suprema importância e a necessidade de o cristão estar unido à Igreja visível.
(4)
Calvino
entendia que o cristão, como filho adotado de Deus, pertence ao Corpo universal
de Cristo, mas exterioriza essa sua ligação à Igreja invisível ao unir-se à
Igreja visível.
Calvino
também deixa claro que essa união se dá pela confissão de fé, pelo exemplo de
vida, pela participação nos sacramentos.
Realmente
vivemos tempos difíceis. Contudo, apesar da complexidade da situação, a igreja
continua sendo lugar de consolo, fé e esperança e, mais do que nunca, essencial
àqueles que sofrem as dores desta pandemia.
Soli
Deo Gloria!
Fonte: pleno.news - Renato Vargens
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