sábado, 1 de junho de 2019

Violência faz fiéis evitarem cultos à noite no Rio de Janeiro



A violência no Rio de Janeiro chegou ao ponto de fiéis desistirem de frequentar os cultos à noite.


Num estado onde 6.714 pessoas foram assassinadas no ano passado, muitos têm pensado duas vezes antes de sair de casa à noite, e isto está refletindo nas igrejas.

Após ler nos jornais sobre um assalto a uma igreja no Méier (zona norte), no último dia 4, quando homens armados invadiram o culto da Igreja Adventista do 7º Dia e levaram tudo de dezenas de fiéis, inclusive dinheiro separado para o dízimo, Roberta Sousa, 37, evangélica da Igreja Batista e sua irmã Márcia, 40, espírita, desistiram de frequentar encontros de suas religiões após anoitecer.

“Algumas igrejas estão readequando seus horários por causa do ir e vir. Não é só o fato de o templo estar em lugar de risco. É a disposição das pessoas de estarem em trânsito domingo à noite, algo recorrente antes”, diz o pastor batista e cientista político Valdemar Figueredo Filho.

Até por uma questão de tradição, os cultos de domingos, ele lembra, “eram o evento mais concorrido anos atrás”. Não mais.

Há menos fiéis indo neles e a predisposição para diminuir, até mesmo eliminar, reuniões noturnas, um horário mais vulnerável. 

Líder da Primeira Igreja Batista, na favela do Juramento, Dercinei Figueiredo decidiu: escureceu, já era. Desde março não realizam mais cultos dominicais à noite.

“As novas rotinas dos membros pesaram significativamente. E elas são pautadas pela violência real e pela expectativa de violência”, afirma.

Eles já tiveram de lidar com homens armados que invadiram o templo em busca de um ladrão que se escondera lá, sem que os integrantes da igreja soubessem.

Nem sempre “o uso da razão, da prudência”, prevalece, diz o pastor Valdemar. “Tem gente que espiritualiza a situação da violência, e aí o culto vira um pouco isso: estão ali na bravura, mencionando épocas em que amar a Deus tinha riscos. Uma visão totalmente distorcida, mais mágica do que teológica.”


Fonte: Folha de São Paulo



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