FAMÍLIA: DIFERENÇA E COMPLEMENTARIDADE
Há muita discussão acadêmica a respeito do significado do termo “família”, que varia desde as concepções culturais às pós-modernas. Entretanto uma coisa é absolutamente certa: só nos tornamos plenamente humanos dentro de um contexto familiar!
A construção deste grupo social começa com uma dimensão do mistério que chamamos “paixão”, isto é, quando duas pessoas se conectam, sem saber exatamente o que as atrai, e decidem partilhar juntas da caminhada da vida. Este mistério leva a outro, ao transformar unidades em uma unidade – algo difícil de se pensar em nossa forma ocidental, cartesiana e linear de reflexão!
É exatamente essa unidade que reflete a “Imago Dei”, pois Deus é uma tri-unidade relacional que nutre uma misteriosa paixão pelo ser humano! Neste sentido, o início da família é algo intrinsicamente espiritual, embora a sociedade secularizada queira transformar essa essência em uma instituição e desvirtuar o sentido de unidade em uma “república conjugal”, num retrocesso ao eu-autocentrado (focado em si mesmo) – única coisa que não era boa em toda a criação!
Tornar-se família pressupõe dois elementos essenciais: diferença e complementaridade. O crescimento de um organismo só se dá “em relação a” e isso pressupõe a diferença. Já a complementaridade se dá no reconhecimento da incompletude e da limitação de si enquanto “indivíduo” – reconhecendo a necessidade do outro (seja na vivência íntima a dois, seja na vivência comunitária) para a plenitude.
A família também é o espaço da vivência do amor incondicional, pois sem a presença do outro seriamos incapazes de vivenciar a dimensão relacional e o mistério de ser amado em toda a nossa vileza e sordidez.
Esse espaço do amor incondicional é âmbito perfeito para a geração da vida – que se traduz tanto nas novas vidas gestadas e cuidadas, como na vida plena, fruto das relações harmoniosas. Essa vida é outro mistério que nos assombra, gerada a partir de duas células que ao se unirem formam uma nova unidade (outra unidade de unidades), sendo esta unidade preenchida com o sopro divino — Ruah (algo de Deus em cada ser).
O reducionismo da vida à dimensão exclusivamente biológica, retirando desta a dimensão do mistério, autoriza o controle obsessivo sobre a mesma e a fantasia de determinação de quando ela se inicia e quando pode ser interrompida.
A vida gerada precisa ser cuidada até atingir sua maturação e maturidade, sendo que o melhor lugar para este cuidado afetivo é no contexto de segurança que se oferece ao ser em desenvolvimento e no modelo de amor sacrificial e incondicional. Maridos e esposas devem garantir aos filhos que eles se amam incondicionalmente e que permanecerão juntos, dando assim liberdade para os filhos desenvolverem plenamente todas as suas capacidades. Quando a maior preocupação dos pais é deixar legados patrimoniais, os filhos correm o risco de se tornarem apenas gestores de uma “empresa familiar”, onde o afeto já não se manifesta de forma espontânea e contínua, e apresentarão sintomas de toda ordem.
O desafio que se nos apresenta, como cristãos, é ter uma mente crítica e “crística” (Rm 12.2) para ultrapassar (em muito) os valores satanizados de uma sociedade que conspira contra o casamento, a família e a vida!
Fonte: http://ultimato.com.br/
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